sexta-feira, 19 de junho de 2015

Ilex - O Rei Azevinho

Às vésperas do Solstício de Inverno aqui no hemisfério Sul, já se sente as temperaturas caírem consideravelmente, as pessoas ficarem mais reflexivas e algumas mais melancólicas. É como se estivesse em nossa memória genética que este é um tempo de introspecção, de silêncio, de guarda.
Nossos ancestrais europeus, ao observarem a paisagem hibernal podiam concluir que somente um ser divino era capaz de morrer e ressuscitar numa mesma vida, e a grande maioria das árvores de clima temperado tem esta característica. Elas hibernam e, para guardarem energia, perdem suas folhas.
Mas o resistente azevinho foge à regra, ele  um dos poucos que não morre, pelo contrário, com a neve se destaca e parece ainda mais vivo. Ele começa a frutificar no Outono e, no Inverno, está mais bonito e brilhante.
No post, "A Batalha dos dois Reis", é contada a lenda do Rei Carvalho e do Rei Azevinho que lutam pelo controle da floresta. No solstício de verão, o Rei Carvalho sucumbia ao Rei Azevinho que reinava até o solstício de inverno. De modo particular, este mito era utilizado para explicar as mudanças das estações do ano, utilizando-se de algo visivelmente natural e presente, sem que uma deidade longínqua e celeste pudesse ser responsabilizada por isso.
O azevinho é minha árvore favorita e não quero expor aqui os inúmeros motivos pelos quais se tornou o meu predileto. Embora não seja propriamente uma árvore mas botanicamente um arbusto, pode chegar aos oito metros e viver até 300 anos. Seu nome científico é Ilex, da família aquifoliaceae, que inclui a Erva Mate (Ilex paraguariensis), tão famosa entre a população dos Pampas brasileiros e os povos paraguaios, argentinos e chilenos que a utilizam para fazer chimarrão e tererê.
Ilex aquifolium
Mas, o Rei Ilex é, sem dúvidas, o Ilex aquifolium (azevinho europeu), espécie de folhas pequenas, verde-escuras, alternadas, lanceoladas, coriáceas e extremamente cortantes. 
Muitos outros arbustos são confundidos com o azevinho, chegando inclusive a ser vendidos como tal. Entre eles estão o Osmantus (Osmanthus heterophyllus - asiático), a Mahonia (Mahonia aquifolium - norte-americana) e a Espinheira-santa (Maytenus ilicifolia - sul-americana). Para os olhos menos criteriosos, a semelhança é tanta que é difícil diferenciar um e outro, por este motivo o Osmantus é chamado de "Falso Azevinho" e a Mahonia é também conhecida como "Azevinho de Oregon".
Mas há uma forma muito eficaz para se distinguir um azevinho legítimo das outras plantas semelhantes, basta observar a maneira como brotam as folhas: azevinhos verdadeiros possuem folhas que crescem alternadas, enquanto o Osmantus e a Mahonia têm folhas opostas.




Um Símbolo Natalino


Seus ramos e bagas estão estampados em cartões, toalhas de mesa, enfeites de portas, louças, entre outros adornos que fazem do azevinho um dos principais símbolos natalinos. O próprio Natal tem as cores da planta e a associação é rápida e espontânea quando alguém se depara com um arbusto.
O azevinho tornou-se um dos principais símbolos natalinos e muitos não sabem os reais motivos pelos quais isto ocorreu. A principal teoria é que, devido a falta de flores e cores no inverno do hemisfério norte, ele era um dos poucos que apresentavam um verde vivo e frutos vermelhos nesta época do ano, então, juntamente com a Hera (Hedera helix), eram feitas coroas e guirlandas para os festejos pagãos do Solstício de Inverno (Saturnália/Yule).
Posteriormente, as festas pagãs foram substituídas pela Festa do Natal cristão, mas hábitos arraigados dificilmente são deixados e o "Rei Azevinho" não perdeu sua coroa.
As famosas guirlandas começaram a ser usadas nos enfeites das igrejas cristãs e até mesmo o Papai Noel tem características do Rei Azevinho, basta observar as cores de suas roupas: vermelho como as bagas, verde como as folhas e branca como a neve.
Na realidade, o bom velhinho é multicultural e até hoje não se sabe ao certo qual sua verdadeira origem. Há quem assegure que o Papai Noel tem origem cristã, cuja lenda nasceu com São Nicolau de Mira, um generoso bispo da Turquia. Outros dizem que ele foi inspirado no velho Saturno (leia no Post "O ceifador - O Espirito do Ano Novo") e há também aqueles que afirmam é uma representação de Odin cuja festa, Yule, acontecia exatamente  no solstício de inverno (entre 21 e 24 de Dezembro). Em sueco, Papai Noel é Jultomte, em norueguês Julenisse e em dinamarquês Julemanden, e todos fazem referência à Yule, festival do solstício. Portanto, o rei pagão se tornou um símbolo cristão.
Há uma antiga canção natalina tradicional inglesa conhecida como "The Holly and the Ivy" (O azevinho e a Hera), cujo refrão principal diz "De todas as árvores da floresta, é o azevinho que porta a coroa". E quem é rei jamais perde a majestade.









3 comentários:

  1. Olá Hugo, acabei de encontrar o seu blog, e gostei muito.

    Obrigado pela disponibilização deste trabalho.

    Abraços

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  2. Muito obrigada pela partilha dos seus conhecimentos, muito uteis.

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  3. O rei do azevinho nunca perdeu sua coroa...

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