domingo, 23 de janeiro de 2022

Iamis Oxorongás - As Bruxas da Jaqueira

Reza a lenda que pronunciar o nome Iami Oxorongá (Iyami Osorongá) é algo que deve ser evitado, isso porque são entidades ancestrais poderosas e obscuras cujo resultado que isso pode gerar é imprevisível. Elas são conhecidas também como mulheres-pássaros e o culto, mesmo dentro das casas de candomblé, é reservado a poucos iniciados e é envolto em segredose preceitos sigilosos, já que se trata de uma força poderosa que, segundo os religiosos de matriz africana, pode causar danos, muitas vezes, irreversíveis aos que não são capazes de lidar com elas - inclusive com a morte. Pois, como é dito: "a ira das mães ancestrais é implacável!".
No Brasil, o culto às Iamis nunca foi muito difundido porque não se trata de um Orixá, mas de entidades de origem africana ligadas à eles - desta forma houve pouco sincretismo com a Umbanda. Normalmente elas estão conectadas à Oxum, pois, segundo a lenda: "Oxum é a dona do pátio onde as senhoras põem seus ovos". 
Na Áfica, seu rito está diretamente ligado à uma árvore conhecida como Apaocá, ou Mogno Africano, contudo essa espécie não foi introduzida no Brasil antes de 1980 e os negros escravizados, que desejavam cultuar as mães aciãs, a substituiram pela jaqueira (Artocarpus heterophyllus) que havia sido trazida da Ásia para o Brasil pelos colonos portugueses. Jaca é uma variação de chakka, que é o nome dado à esta fruta pelos povos do sul da Índia e da Malásia.
Uma vez que essa espécie foi escolhida e designada a árvore das Iyamis africanas, ela passou a ser chamada de Tapónurin.
Os motivos pelos quais o Mogno da África foi substituído pela Jaqueira indiana é realmente um mistério, porém, quando  nossos ancestrais negros escolheram esta espécie para o culto às Iyamis, todas as jaqueiras, onde oferendas foram dedicadas, passaram por uma sacralização litúrgica onde se o axé foi assentado (energia) antes de qualquer rito ser iniciado. Dizem, portando, que as Iyamis tomaram esta espécie para sí, passaram a habitar nas jaqueiras e até hoje esta árvore é associada à essas feiticeiras.




Cuidado com a Jaqueira!



Tapónurin
Existe a crença de que não se deve permanecer, também evitar passar, em baixo das jaqueiras, pois nelas habitam as bruxas e alí é um território restrito aos poucos aceitos, normalmente do sexo feminino e iniciados nos segredos. Isso porque, de acordo com o mito, as Yiamis fizeram um pacto de nunca engravidarem e é por esse motivo que rechaçam homens.
O mito conta que o pacto foi uma vez quebrado quando uma delas (Iyá NBanba), se apaixonou por Okô, orixá da agricultura, e acabou cedendo aos seus encantos. Desta relação nasceu Oxóssi que, embora tenha sido criado por Iamanjá, é na verdade filho de Apaocá - ou seja, Odé é filho de uma bruxa. 
Como o pacto entre as Iyamis foi quebrado por causa de um homem, a cólera que sentem pelo sexo masculino é ainda maior e, por esse motivo, todo homem precisa ter ainda mais cautela ao prestar oferendas à elas, devendo tomar extremo cuidado com as jaqueiras.
Segundo Pierre Verger, as folhas do pé-de-jaca são utilizadas em muitos banhos e assentamentos no candomblé, entretando, o fruto deve ser evitado pelos iniciados da religião, isso porque é a própria Apaocá reside na jaqueira e isso seria uma ofensa à feiticeira mãe de Odé.
Bem, dessa forma é possível compreender a sacracidade dessas árvores para os povos de origem Yourubá no Brasil e, dentre tantas quizilas que envolvem os mitos ao redor delas, algo é realmente compreensível: não é mesmo auspicioso e nem recomendável ficar em baixo de uma jaqueira.  São espécies de grande porte e seus frutos são os maiores dentre todas as árvores do planeta, quanto mais alto estiverem, mais arriscado se torna quando eles caem - e a queda é iminente. Portanto, não é difícil, associar esta àrvore às senhoras que trazem à morte consigo. 
Com muito respeito às senhoras e por questões de segurança, não se deve arriscar ficar em baixo de um Tapomurìn.



Taponurín é o nome dado à Jaqueira (Yorubá)





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