sexta-feira, 8 de maio de 2015

Serpentes - O Mal Encarnado

Nenhum outro animal gera tanto medo e fascínio ao ser humano quanto as serpentes. Nas mais diversas mitologias, do oriente ao ocidente, das tribos mais antigas às mais recentes da história da humanidade, cobras são demonizadas e divinizadas.
São incontáveis as histórias que relacionam deuses e serpentes, talvez porque os seres humanos sempre mantiveram por elas um certo temor e respeito, assim como aos deuses.
Para a esmagadora maioria das pessoas, a cobra é o animal mais amedrontador do Planeta, o próprio mal encarnado. Salvo algumas exceções, a maioria dos mitos referente às serpentes a associam com algo maléfico.
O simples fato de olhar a imagem acima, deixa muitos de cabelos em pé. Não é a toa, pois a cobra é o animal mais mortífero do mundo, o que mais ameaça o ser humano, pelo menos aparentemente. Sabe-se hoje que os mosquitos são muito mais letais e perigosos aos seres humanos do que as cobras, mas nossos ancestrais não sabiam disto.
Nosso medo das cobras está diretamente ligado aos tempos em que pertencíamos aos grupos de hominídeos que viviam nas árvores. Os primatas - macacos, lêmures, símios e humanos - temem instintivamente as cobras desde muito cedo, desde a infância, reconhecendo nelas a ameaça iminente. 
Nossos ancestrais que viveram na África não tinham grandes predadores quando estavam nas árvores, porém tinham, muito próximo, um animal silencioso, de ataque rápido, mordida dolorosa e veneno altamente letal. O ancestral primata do ser humano, desceu da árvore, tornou-se ereto e um animal pensante altamente complexo , mas trouxe consigo a herança de milênios de convívio turbulento e atribulado com as serpentes. 
No post sobre o "Jardim do Éden" foi abordado o tema do lugar supostamente perfeito, que seria realmente  perfeito se não houvesse uma serpente capaz de tirar a paz. Certo é que as cobras sempre fizeram parte de nossos piores pesadelos e é de se imaginar o medo constante que os hominídeos tinham daquelas que partilhavam com eles as árvores das savanas e que, ao contrário dos pássaros e insetos, podiam ser confundidas com galhos e não eram nada amistosas. Talvez, na mente de nossos ancestrais primatas, as víboras eram más por excelência, pois ao contrário de outros animais que eles observavam, elas não se alimentavam de todos que picavam, e mesmo assim os matavam.
A mente humana não consegue facilmente desassociar algo que durante séculos de evolução foi criado para nossa proteção. O medo faz parte de um mecanismo de defesa, onde o enfrentamento pode significar a própria morte e manter a sobrevivência é mais importante.
Uma vez que o Homem criou a Deus como o símbolo de  proteção, o venerou primordialmente como o  Sol que todos os dias iluminava a Terra e trazia à tona tudo que era possível enxergar. Quanto às sombras, estavam repletas de cobras malévolas, de visão noturna, astutas, que não faziam barulho e atacavam no primeiro sinal de movimento e matavam, elas então se tornaram a representação do mal, muito mais concreta e corpórea do que o sol que não podia ser tocado.
A serpente demoníaca vivia na árvore, enganou o Homem  atrás do fruto apetitoso. Deu o bote e tirou a vida de Adão e Eva, expulsou-os do Paraíso. São seres que nunca mais terão nossa confiança e serão para sempre nossas inimigas.











segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

A Árvore da Vida - A Mulher e a Maçã


No livro do "Gênesis" capítulo 2, versículo 9 está escrito:

"Então o Senhor Deus fez nascer do solo todo tipo de árvores agradáveis aos olhos e boas para alimento. E no meio do jardim estavam a árvore da vida e a árvore do conhecimento do bem e do mal."

No post anterior foi abordado como o Homem fora expulso do Paraíso após ter comido do fruto da Árvore do Conhecimento. Devido à desobediência ao que lhes fora imposto, Adão e Eva deixaram o jardim do Éden para sempre.

Gên. 16 - 17:  "E o Senhor Deus ordenou ao homem: Coma livremente de qualquer árvore do jardim, mas não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente você morrerá."

Segundo o mito, através do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, o primeiro homem e a primeira mulher foram condenados e banidos do jardim de Deus - toda história é envolvida por este feito. Mas, no livro da criação não há maiores detalhes sobre a "Árvore da Vida", como ela era e qual o seu real papel no mito. 
De acordo com o Gênesis, o único fruto que não podia ser consumido era o da Árvore do Conhecimento, todos os outros eram permitidos, e é sabido que a árvore da vida também tinha fruto:

Gên. 3,22-24: "Eis que agora o ser humano tornou-se como um de nós, conhecendo o bem e o mal. Não devemos permitir que ele também estenda a sua mão e tome do fruto da árvore da vida e comendo-o possa viver para sempre!"

Assim, conclui-se que a árvore da vida era também a árvore da eternidade e, embora não houvesse nenhuma proibição quanto ao seu consumo, ele não foi provado.

A ÁRVORE DA VIDA


Na continuação do versículo acima está escrito que, após expulsar o Homem do Paraíso, Deus colocou, ao oriente do Jardim do Éden, querubins armados por espadas flamejantes que guardariam o caminho da árvore da vida. Portanto, nem mesmo se quisesse voltar, o Homem seria capaz de tomar o novo fruto proibido e descobrir a fórmula da imortalidade.
Desde que o ser humano começou a compreender a sua existência, a morte foi  um grande mistério. Talvez, para aqueles que criaram o mito, descobrir este segredo era tão impossível quanto cruzar novamente os portões do jardim divino e enfrentar querubins armados.
De toda forma, o Homem nunca desistiu de encontrar outra fórmula para a vida eterna. Há séculos atrás, na Idade Média, grandes mestres da alquimia tinham como principal busca a famosa "Pedra Filosofal", o elixir da longa vida. 
Muitos viveram na frustrada procura pela famosa "Fonte da Juventude" que, segundo a lenda, possuía águas capazes de fazer rejuvenescer, curar as doenças e revigorar qualquer um que as tomasse ou se banhasse nelas. Há narrativas de que até mesmo Alexandre (o Grande) chegou a procurar por tal fonte.
Mas os mitos sobre imortalidade, árvores divinas e frutos miraculosos não são exclusivos do povo hebreu e do meio oriente. Na mitologia nórdica há uma fascinante história envolvendo alguns destes itens, porém, ao invés de uma só árvore, é um pomar guardado não por um Deus mas por uma bela Deusa. Ironicamente, nesta história, é a maçã o fruto da vida.

As Maçãs de Idunna
 
Na mitologia nórdica, toda a vitalidade, força e poder dos deuses (Aesir) só é possível porque existe uma forte presença feminina por trás disto. Ao contrário de outras mitologias, os deuses nórdicos não são eternos e imortais somente porque são deuses, mas por meio de um ato muito humano - o de comer.
A imortalidade dos memoráveis Odin, Thor e Loki depende de Idunna (Iðunn), uma bela deusa que faz brotar em seu pomar, maçãs douradas e, através de seu encanto, as transformam em frutos mágicos. Os deuses se alimentam destas maçãs diariamente, e este é o segredo do vigor dos Aesir.
Uma lenda viking conta que, certa ocasião, Idunna foi raptada por uma enorme águia a mando do gigante Thiazi. Com a senhora das maçãs em poder dos malvados gigantes, os deuses não tinham como manter seus poderes e logo começaram a ficar debilitados e a envelhecer. Foi preciso a intervenção de Loki, o astuto , que também estava envolvido em tal rapto, para que Idunna fosse resgatada e os outros deuses pudessem recobrar a juventude e a vitalidade.
Este é um mito um tanto interessante, pois entra em contradição com muitos conceitos judaico-cristãos. O primeiro deles é que a mulher, neste caso, não é a que leva à perdição, mas a que traz a vida. O segundo se trata do fruto em questão, a maçã, que há séculos foi considerado e apedrejado como ícone da perdição e do pecado e, nesta lenda, é glorioso e exaltado como alimento primordial dos deuses.
É certo que a maçã nem sempre fora relacionada ao fruto proibido; não há um só texto bíblico que a cite, posto que a macieira é uma árvore de clima temperado e frio e não havia como adaptar-se facilmente no árido deserto asiático. Este vínculo ocorreu na Idade Média, com o advento do catolicismo patriarcal. A Igreja, durante séculos alinhou ao pecado quase tudo que tivesse conexão com o feminino - a própria mulher era ligada ao demônio, por isso que tantas eram denominadas bruxas e foram vítimas das piores torturas na Inquisição. Muitas acabaram sendo queimadas por heresias e supostos pactos com o diabo (enquanto muitos homens saiam ilesos, apenas como vítimas da maldade do sexo oposto). 
Em muitas comunidades pagãs da Europa, a maçã era símbolo da mulher e da feminilidade. Talvez os povos antigos puderam observar a semelhança que existia entre a vulva e a maçã (quando a fruta é cortada ao meio) e a  relacionaram  ao órgão genital feminino. Consequentemente aos encantos da mulher.
Como tudo que estava ligado à sexualidade foi posteriormente rejeitado pela Igreja (ao contrário dos pagãos que não viam delito no sexo), a venerada maçã se tornou símbolo do pecado, Acreditava-se que a mulher era causadora do mal da humanidade e não o homem, pois fora Eva que tentou Adão e não o contrário.
Os mitos se opõem e se encontram em suas mensagens: de um lado está Eva (a mãe da humanidade) e do outro Idunna (a deusa que alimenta os Aesir), mas ambas capazes de mudar o destino de personagens lendários.
O Deus judaico-cristão mudou seus planos por um simples ato de Eva, e os nórdicos deixariam de existir se não fossem as maçãs que passavam pelo toque mágico de Idunna.  
Ambas mulheres, ambas que tinham nas mãos a vida de homens e deuses. Maldito ou bendito fruto?











domingo, 1 de junho de 2014

Éden - O Jardim de Deus


"Paraiso Terrestre"  de Jacob Savery

Alguns dos seguidores e também dos que entraram no blog estes últimos tempos, notaram que não escrevo desde o primeiro dia deste ano. Bem, foi um período de retiro muito necessário em que eu estive bem distante - inclusive da comunidade do Facebook. Foi um tempo essencial para que eu pudesse rever toda minha vida e expectativas; um tempo em que eu comecei a questionar tudo o que acreditava, principalmente em relação à minha fé.
Nesta fase de questionamentos, eu descobri o quanto amava uma ciência chamada antropologia, e assim me dediquei muito mais aos estudos do homem como espécie, seu desenvolvimento como criatura pensante e sua evolução como ser racional e transformador.
Algumas pessoas me escreveram neste meio tempo sugerindo temas para posts mas, recentemente, uma leitora me enviou uma mensagem perguntando se eu tinha algum material sobre a "árvore da vida" e se podia partilhar. Foi então que eu descobri que tenho uma quantia considerável de material, guardados em pesquisas e livros, sobre muitas coisas que desejo escrever, e nada melhor do que voltar aos posts com um tópico como este. 
Mas não se pode falar da árvore da vida sem antes falar do Éden, e é por isso que resolvi retornar ao blog com este tema tão antigo que reflete este período de retiro em que eu questionei a minha fé (deus), a minha atuação como paisagista (jardim), meu trabalho de pesquisas (árvores e mitologias) e o ser humano que sou (Adão).


"No princípio era o Verbo"

 

Fiat
Alguns se perguntam que verbo era esse. E eu lhes repondo: este verbo é o "Fiat" - o "Faça-se". Foi assim que o Deus bíblico começou a criação. 
E ele fez os céu, a terra e a luz. E no terceiro dia fez a semente, a árvore e o fruto. No sexto dia fez o homem à sua imagem e semelhança para dominar sobre todas as coisas.
Costumo dizer que assim se deu a criação de Deus: quando o homem o tornou semelhante a si próprio para justificar o seu domínio sobre a natureza.
As origens deste relato remontam aproximadamente meio milênio A.C, e muitos acreditam que este mito reflete de forma inconsciente, o desejo do homem de voltar ao paraíso onde tudo lhe era dado pela natureza e não precisava do suor para colher o fruto, já que tudo estava disponível. 
O Homem, quando deixou de ser um simples caçador e coletor começou a transformar a paisagem, fazendo com que a natureza o servisse. 
O advento da agricultura  (aproximadamente 10.000 anos atrás)  fez com que o homem tivesse o conhecimento das estratégias de Deus. O conhecimento trouxe ao ser humano a possibilidade de retirar da natureza aquilo que antes era apenas ofertado pela vontade divina.
Mesopotâmia
A descoberta do fruto que podia ser semeado por suas mãos, fez com que ele passasse a se ver como um ser superior, diferente dos demais seres que caminhavam sobre a terra, já que tinha nas mãos o poder de plantar e de colher o que produziu.
Deus podia ter feito as plantas e os animais, mas o ser humano sabia como controla-los, e ainda justificou tal autoridade na própria Bíblia como se fossem as palavras do próprio criador (Gênesis 1,28 -"e dominai sobre todas as coisas!").
dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra.

Gênesis 1:28
O "fiat" não estava somente das mãos de Deus; o homem passou a recriar. Era dele também o "Faça-se".


O Lavrador de Café - Portinari - 1934



O PARAÍSO TERRESTRE PERDIDO

O Éden é alegórico e mitológico, mas nem sempre foi visto desta forma. Na Idade Média, os teólogos acreditavam que ele era um lugar tangível em nosso mundo e que estava no Oriente Médio.  
A procura pelo jardim perdido, levou muitos homens à buscas desenfreadas. Os cruzados pretendiam encontra-lo próximo à Jerusalém e  Cristovão Colombo estava seguro de que ele estava nas Américas.
Somente séculos mais tarde começou-se a questionar se o Jardim do Éden seria mesmo físico. Hoje, nem mesmo a Igreja Católica acredita literalmente neste conto, porém muitos ainda  discutem se este mito foi inspirado em algum lugar real.
 É claro que, se um dia houve um local que inspirou o Éden, ele deve estar perdido na região onde hoje se localiza a  antiga Mesopotâmia - já que a bíblia é um compilado de livros que narram a história dos israelitas e os povos circunvizinhos. Curioso é que os indícios mais antigos do desenvolvimento agrícola foram encontrados também nesta região.
De toda forma, a procura pelo Éden foi também a procura pelas origens do homem e da sua autenticidade como imagem e semelhança divina. Até hoje, para os que acreditam no Paraíso celeste, o descanso no "reino dos céus" é a recompensa por ser "filho de Deus". Não raramente, este reino é retratado como um belo jardim onde tudo é perfeito - e onde nem todos entrarão.
A palavra jardim faz menção a algo fechado, cercado, restrito, e Adão era o responsável por aquele que o Criador lhe confiou.
Segundo a história: uma vez expulsos do Éden, o homem e a mulher deixaram de desfrutar dos privilégios que lhes fora dado, assim, deveriam lavrar a terra e comer dela. O Paraíso foi definitivamente perdido.
A serpente, símbolo antigo da sabedoria (a mais astuta), disse que eles podiam entender os mistérios e adentrar grandes segredos se comessem do fruto da árvore do conhecimento.
O Homem então decifrou o enigma que havia dentro do fruto - as sementes que germinavam quando plantadas. Era saboroso o saber e delicioso o descobrimento, entretanto, perdeu-se tudo que lhe era dado.
Ao partirem, o homem e a mulher levaram consigo a fúria de Deus. Sua ira estava sobre tempestades furiosas, secas devastadoras e pragas que destruíam as colheitas. Não havia onde se esconder. 
O ser humano estaria para sempre à mercê da vontade do criador e seu eterno rancor por ter sido desobedecido. 


"O Primeiro Trabalho de Adão" de Alonso Cano - 1651



quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

O Ceifador - O Espírito do Ano Novo


Embora pareça assustador, este mítico personagem tem um simbolismo bastante interessante. É ele quem traz o novo ano.
O senhor do tempo, conhecido como "Father Time" (Pai do Tempo), é representado normalmente segurando uma enorme foice em uma das mãos e um relógio na outra, no qual os ponteiros marcam 00:00h. 
Em primeiro momento se assemelha a figura da "Senhora Morte" (Grim Reaper), mas  também do "Deus Pai" judaico-cristão - por se tratar de um senhor barbado usando uma longa túnica.
Este tipo ermitão é o espírito do tempo.  Alguns o chamam de "O ceifador" - aquele que vem ceifar o ano velho e trazer o ano novo (simbolizado pela criança). O relógio, ou ampulheta, marca o início de um novo tempo.
Saturno
Acredita-se que esta figura tenha origem na mitologia grega, sendo ele uma espécie de "Cronos", o "Senhor do Tempo". Segundo o mito, Cronos mutilou seu pai Urano (Senhor do céu) com uma foice que lhe foi dada por sua mãe Gaia (Senhora da terra).
Cronos foi posteriormente associado a Saturno, deus romano ligado à agricultura. Em meados do solstício de inverno havia um festival chamado Saturnália que era em honra a esta deidade. Nesta data, além dos festejos que duravam vários dias, comia-se, bebia-se muito, e trocavam-se presentes. Quaisquer relações com os costumes natalinos não são meras coincidências.
O dia 01 de Janeiro foi instituído como o primeiro do ano em 46 a.c. pelo imperador romano Julio Cesar. Ou seja, as datas do solstício de inverno (por volta de 21 de Dezembro) e do advento do ano novo se aproximaram. Foi necessária a aproximação das datas para que a figura de Saturno posteriormente inspirasse a figura do "Senhor do Tempo", já que este está ligado à passagem do ano.
Há quem diga que esta alegoria, o velho que dá lugar à criança, venha de um mito adulterado e invertido, pois, sendo o "Espírito do Ano Novo" uma representação de Saturno, este não daria o lugar ao novo, já que na mitologia romana, Saturno devora seus filhos para que estes não lhe tomem o poder.
Mas, como nos mitos tudo se transforma, o cruel Saturno se converteu no bondoso Ceifador. Não se sabe ao certo como isto aconteceu, nem como surgiu esta figura mítica como é conhecida hoje, mas é provável que tenha adquirido tais características de modo muito gradativo; mesclando-se aos poucos aos novos costumes, do renascimento em diante.
Sabe-se que teve mais força a partir do século XIX, onde começou a estampar cartões de natal com os votos de "Feliz Ano Novo". A antiga túnica greco-romana foi substituída por um hábito tipicamente franciscano e, não raramente, é representado com asas como as dos anjos cristãos.
A figura do Ceifador é mesmo uma bela alegoria de como o antigo sucumbe ao novo.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

O Pinheiro - Árvore do Natal

O pinheiro é, sem dúvidas, um dos grandes símbolos do Natal. Enfeitar a árvore e colocar embaixo dela os presentes que serão distribuídos no dia 25 de Dezembro tornou-se uma tradição para boa parte de nossa cultura ocidental.
Mas, embora existam diversas teorias em relação as suas origens, não se sabe bem quando foram utilizados os primeiros pinheiros neste contexto. É certo que grande parte desta prática remonta a tempos anteriores ao cristianismo.
Há inúmeras teorias e um tanto mais de especulações. Não entrarei nas supostas árvores que eram utilizadas na Saturnália romana e nem nos mitos de Nimrod, pois existem muitas informações controversas.
É sabido que arbustos sempre-verdes - aqueles cujas folhas não caem no inverno - eram utilizados em antigos rituais pagãos europeus, principalmente nas festividades do solsticio de inverno. 
No hemisfério norte, grande parte das árvores do clima temperado são de folhas caducas e, entre as poucas que se mantêm, estão os azevinhos e os pinheiros.
Os azevinhos eram muito utilizados nesta época do ano entre os antigos povos da Grâ-Bretanha, as guirlandas decoravam as casas e muitas eram oferecidas às fadas das florestas. Sabe-se que os viscos, tão venerados pelos druidas, também enfeitavam as guirlandas, costume que até hoje persiste.
Quanto ao pinheiro, ou abeto, há muitas sugestões, mas acredita-se que sua origem esteja na Alemanha.
Há quem diga que o pinheiro enfeitado foi uma inspiração de Martinho Lutero - o responsável pela reforma protestante. Ele passeava numa noite, às vésperas do Natal, por um bosque de pinheiros, e olhava as estrelas quando lhe veio em mente o nascimento do cristo. 
A fins de imortalizar esta imagem, levou uma das árvores para dentro de sua casa, a enfeitou com velas e em seu topo colocou uma estrela. Desde então a prática de levar um pinheiro para casa e enfeita-lo se difundiu pela Europa protestante.
Mas há uma história um pouco mais antiga que conta  uma outra versão de como o pinheiro teria se tornado um símbolo da cristandade, também oriunda deste país.


Lutero e o Pinheiro de Natal



A Árvore de São Bonifácio



Reza a lenda que São Bonifácio, um clérigo inglês do século VI, foi enviado ao que hoje é a atual Alemanha com a missão de evangelizar e converter os pagãos.  
Conta-se que, próximo a província de Fritzlar, havia um velho carvalho dedicado ao deus Thor, no qual se ofereciam diversos tipos de sacrifícios. 
O santo, perplexo com esta prática, ordenou que a árvore fosse cortada - há histórias que dizem que o próprio Bonifácio a abateu.
Era um árvore sagrada para aquele povo, e eles acreditavam que quem a cortasse seria amaldiçoado. O santo, após faze-lo, mostrou que nenhum mal o atingira e, segundo a narrativa, no local onde estava plantado o antigo carvalho dos sacrifícios, come
çou a brotar miraculosamente um Abeto.
São Bonifácio levou isto como prova de sua fé e tomou o pinheiro como representação cristã, sua forma triangular como símbolo da santíssima trindade e então o consagrou ao menino Jesus. Daí surgiu o costume de plantar um pinheiro no Natal para homenagear o nascimento do Cristo. Prática que acabou se espalhando pelo território Germano.


O Tronco de Yule

Após as teorias cristãs sobre as origens da árvore de natal, nada mais justo do que contar uma das versões pagãs da prática de cortar uma árvore, leva-la para dentro de casa e enfeita-la.
Um costume que sobreviveu por muito tempo, mesmo após o advento do cristianismo, era o do "Tronco de Yule". 
Em meados de 21 de Dezembro, no Solstício de Inverno, celebrava-se uma festa denominada "Yule".  O nome provém de Jul (pronuncia-se Iul) que por sua vez provém de Jolnir, um dos nomes de Odin - o principal Deus da mitologia nórdica. Festa que era dedicada a ele.
Entre os antigos povos europeus, principalmente da Escandinávia, havia a prática de cortar uma árvore e leva-la para dentro de casa. Costumavam decorar este tronco com fitas e folhas de azevinhos e há quem diga que o encharcavam com vinho e posteriormente acendiam com ele a fogueira.
Havia, em algumas regiões, toda uma cerimônia no corte do tronco de Yule. Conta-se que na Inglaterra, enquanto o tronco era arrastado para a casa, os moradores seguiam em cortejo cantando músicas alegres.
Diziam que o fogo de Yule trazia bênçãos e proteção para a residência e seus habitantes. Após a queima do tronco, um pequeno fragmento era guardado para acender o do próximo ano e as cinzas da fogueira eram utilizadas em diversos ritos de proteção.
Há quem afirme que a prática do corte e queima do tronco se tratava de um ritual associado à fertilidade, já que o inverno é uma época onde a terra simbolicamente está dormindo. O tronco representava o falo sagrado que era reverenciado neste período e as cinzas lançadas na terra serviriam para honra-la na esperança de uma próspera primavera.







terça-feira, 19 de novembro de 2013

Os Círculos de Pedras - Templos de Energia



Não há como não relacionar os antigos monumentos de pedras aos clássicos druidas.
Ainda discute-se se os druidas foram os grandes responsáveis pelas construções dos megálitos encontrados nas regiões que posteriormente foram habitadas pelos celtas. Isto ocorre porque alguns acreditam que  a classe dos druidas antecedeu aos chamados celtas, mas que se firmou do modo que conhecemos nestas sociedades - também atingindo seu auge entre estes povos. 
Algo que ainda divide estudiosos e historiadores é se estes antigos sábios utilizaram, ou não, os monumentos circulares em cerimônias religiosas. Eu, particularmente não consigo conceber a ideia de que os druidas, principalmente os das Ilhas Britânicas, vissem tamanhos monumentos, com todo seu misticismo, e simplesmente os desprezassem como insignificantes pedras erguidas. Sábios, fisósofos, teólogos, astrólogos que eram, não poderiam simplesmente deixar de lado toda representatividade destes megálitos, quando se sabe que muitos deste locais serviram por tanto tempo como observatórios e calendários astronômicos.
Não somente para os celtas e seus ancestrais, mas boa parte dos povos antigos consideravam o círculo a forma perfeita da natureza. Toma-se como principal símbolo o Sol e a Lua, deidades antigas em seus formatos circulares, que representavam bem esta ideia. Também a maneira como estes seguiam suas rotas pelos céus. 
A mudança das estações era vista de forma circular, assim como a vida em suas etapas - nascimento, morte e reencarnação.
Sobre os círculos de pedras - também conhecidos como cromeleques - tomo a liberdade de reescrever as palavras de Philip Carr-Gomm, um dos líderes da O.B.O.D (Ordem dos Bardos, Ovates e Druidas) que se encontram no livro "Os Mistérios dos Druidas" :

"A geomancia é conhecida em todo o mundo, podendo ser definida como a arte e ciência que determina a disposição correta de templos, círculos sagrados, sepulturas e monumentos em relação às forças do céu e da terra. Trata-se de um conhecimento da sacralidade da terra e um dos seus pressupostos de base é o de que esta transporta correntes de energia vital que fluem em linhas, da mesma forma que no nosso corpo também correm veios de energia sutil, conhecida pelos acupunturistas pelo nome de "chi".
Por todo território associado aos antigos druidas, podemos encontrar círculos de pedras em pontos significativos ao longo daquelas artérias do "Espírito da Terra"... Os radiestesistas sempre afirmam que os locais onde podemos encontrar aqueles monumentos emitem fortes radiações, sendo muitas vezes o ponto de cruzamento de correntes de águas subterrâneas... Por volta de 1990, já tinham sido analisados mais de vinte círculos de pedras com recursos a manômetros e outros instrumentos, tendo-se descoberto que, sem exceção, todos eles se encontravam em terrenos que apresentavam índices anômalos de energias naturais quando comparados com os terrenos circundantes. Descobriu-se, além disto, que todos eles ficavam por cima, ou muito próximo de falhas geológicas, o que resulta numa intensificação dos campos magnéticos da terra nestes locais... Encontrando índices significativos de concentração de ultras-sons em vários locais onde existiam pedras erguidas. Estes sinais eram mais fortes pela madrugada, mas tornavam-se ainda mais poderosos na altura dos equinócios de primavera e outono.
Os homens e mulheres que construiram e trabalharam nestes círculos eram claramente pessoas notáveis, que não só conseguiram os feitos de engenharia necessários para a sua construção como os aplicaram respeitando os limites impostos por uma geometria sofisticada e pela ciência da medição, as quais conjugaram com a sua compreensão dos campos de energia (para determinarem a localização de cada círculo) e da astronomia (para determinarem a localização exata de cada pedra."

Druid Menhir
Compreende-se assim que os locais onde foram erguidas as antigas pedras dispostas em forma circular não eram eleitos ao acaso, mas estavam de acordo com a energia que emanava do local. Os métodos utilizados pelos que construiram tais círculos ainda é um mistério, já que certos recursos e equipamentos de medição não estavam disponíveis há milênios atrás. Isto sem contar com a forma ainda intrigante com que os blocos eram movidos.
Sabe-se também que as pedras eram selecionadas de forma muito cuidadosa, sendo muitas vezes extraídas de pedreiras distantes e transportadas por quilômetros - como Stonehenge, cuja as pedras são provenientes do País de Gales. 
Alguns acreditam que muitas destes blocos eram escolhidos por possuírem energias peculiares. Por este motivo, não utilizavam certos exemplares de rochas disponíveis em pedreiras mais próximas. 
Sem dúvidas, os esforços dispensados nas construções de tais monumentos, a escolha do local e a forma com que as pedras eram dispostas, faziam do lugar um espaço sagrado.
As formas circulares, espiraladas e em elipse, eram as preferidas pelos antigos celtas. Isto pode ser notado claramente através das figuras e desenhos esculpidos em pedras e menires.
É provável que os druidas acreditassem mesmo que a energia vital fluía de modo circular. Contudo, não há como saber se foram coparticipantes destas construções, ou aprenderam com os descendentes daqueles e os construiram.
As danças ritualísticas eram circulares, reuniões e celebrações eram normalmente organizadas em círculos. Sendo assim, a energia do local e dos participantes podia interagir e correr de modo mais fluente.
Certamente o círculo é a forma que representa a força em movimento e a vida em seu fluxo. Não é de se estranhar que ainda seja considerado por muitos, uma forma geométrica sagrada.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Sexta-feira 13 - Origens e Mitos



Sexta-feira era o dia consagrado à Freya (Frigga), a principal deusa da Mitologia Nórdica.
Em diversas línguas, o nome correspondente a este dia da semana está associado à Freya: Friday (inglês); Freitag (alemão); Fredag (sueco/norueguês/dinamarquês).
Freya, por sua vez, está relacionada ao planeta Vênus, que também dá nome a este dia em línguas de origem latina: Viernes (espanhol); Venres (galego); Venerdì (italiano); Vendredi (francês); Vineri (romeno).
Sendo a Sexta-feira dedicada à esta Deusa, os antigos povos pagãos do norte do continente costumavam cultua-la neste dia. Dizem que, após o processo de cristianização da Europa, os escandinavos deixaram de venerar Freya, porém, muitos continuaram acreditando em seus poderes. Entretanto, aquela que antes era a divindade do amor de da beleza, tornou-se uma entidade maléfica - passando a ser vista como uma bruxa, que se reunia toda sexta-feira junto à outras feiticeiras em rituais nefastos .
Outros diziam que, neste dia, ela passeava com seu carro puxado por gatos, rogando pragas contra os infiéis. Os gatos, portanto, sendo animais ligados à Frigga, eram apontados como mensageiros das bruxas e temidos como emissários de azar. As sextas-feiras passaram, então, a ser consideradas de mau agouro.
Templários acusados de heresia
Quanto a má sorte do número 13, a principal referência é que no dia 13 de Outubro de 1307, foi oficialmente decretada pelo rei francês, Felipe IV, a perseguição aos Cavaleiros Templários - o que levou diversos membros religiosos às fogueiras, outros tantos à forca e, por fim, à ruína e destruição desta Ordem. 
A razão pela qual o rei Felipe, também conhecido como "O Belo", desejava a supressão dos Cavaleiros é ainda controversa. A mais aceita é que ele tinha interesse nos bens acumulados pela Ordem do Templo e, para confisca-los, ele utilizou sua influência junto ao Papa Clemente V, acusando os Templários de heresia, sodomia e adoração ao diabo.
Era uma sexta-feira.

domingo, 21 de abril de 2013

Yggdrasil - A Árvore do Mundo

A árvore do mundo para os antigos vikings era concebida de maneira um tanto surreal. Seu nome era "Yggdrasil". 
O significado desta palavra ainda é misterioso e há diversas teorias a respeito. Uma delas, e a mais aceita, é que Yggdrasil significa "forca",  o que remete à lenda do deus nórdico, Odin, que ficou pendurado na árvore por nove dias e nove noites para descobrir o segredo das Runas.
Esta árvore é representada como um mitológico freixo gigante que suporta o Universo habitado por deuses, homens e seres fantásticos. Nas raízes em torno de seu tronco localizam-se nos mundos de: Niflheim (terra do gelo); Iotumheim (terra dos gigantes); Alfheim (terra dos elfos); Muspelsheim (terra do fogo) e Vanaheim (terra dos deuses Vanir). Sob eles está Svartalheim (terra dos duendes) e ainda mais  abaixo se encontra o Hell (submundo).
Ao redor do tronco principal da Yggdrasil está Midgard - a terra central onde vivem os homens e os animais. Por fim seus ramos se estendem até o Asgard - terra dos deuses nórdicos.
Este enorme Freixo é uma alegoria e representa a forma como os vikings compreendiam o mundo e o cosmos.  Hoje enxergamos o Universo de uma forma circular, repleto de esferas que são os planetas e as estrelas, mas para os antigos escandinavos não era bem assim. Eles acreditavam na existência de outros mundos (reinos) e concebiam o Universo numa estrutura arbórea, com todas as divisões e subdivisões dos reinos mitológicos em que acreditavam.

A Cruz de Odin


Reza a lenda que Odin, o principal deus da mitologia nórdica, para obter o segredo das Runas - símbolos mágicos que podem ser utilizados em forma de escrita ou de oráculo - ofereceu um de seus olhos e durante nove dias e nove noites ficou pendurado na gigantesca árvore. 
Coincidentemente, assim como o Cristo, foi transpassado por uma lança, açoitado pelo vento, e nem mesmo uma bebida lhe foi dada  para que pudesse matar sua sede em meio a tanto tormento. Ele ofereceu-se em sacrifício para que pudesse ter a compreensão das vida e, ao final de sua agonia, no nono dia, Odin soltou um enorme grito e, agarrando as runas, caiu da árvore.
Quando levantou-se se sua "morte", o deus já tinha o conhecimento de muitas coisas escondidas aos homems. Ele voltou sabendo como curar as doenças, livrar-se de seus inimigos e agarrar uma flecha em pleno voo. 
A divindade maior da mitologia nórdica, tornou-se o símbolo do conhecimento e da sabedoria depois de seu martírio na cruz da Yggdrasil.









terça-feira, 2 de abril de 2013

O Trevo-de-quatro-folhas - Boa Sorte


Recentemente, um conhecido perguntou-me: encontrei uma moita de trevos-de-quatro-folhas num terreno baldio, dizem que é raro se deparar este tipo de trevo. Existe alguma especie que só nasce com  trevos quatro folhas?
Bem, da mesma maneira que ele tem esta dúvida, acredito que muitos têm. Vamos então esclarecer a respeito e contar também um pouco sobre as lendas dos trevos.
O trevo-de-quatro-folhas é, na realidade, uma anomalia do trevo comum; digamos que é um erro genético.
O espécie de três folíolos é considerada muitas vezes uma erva-daninha ou uma praga. Ele cresce facilmente, principalmente em solos úmidos, e se espalha muito depressa. 
Dentre os trevos, cujo próprio nome já faz menção às "três folhas", pode acontecer de surgir um trevo de quatro folhas. É realmente uma anomalia rara - eu nunca encontrei nenhum -, portanto, deparar-se com uma  singularidade é, no mínimo, peculiar. Estima-se que seja um para cada dez mil trevos normais.
Esperança - Amor - Fé - Sorte
O trevo é considerado uma erva de bom presságio há muitos séculos. Alguns dizem que cada folha representa uma virtude. Seriam elas:  a fé, a esperança e o amor. A quarta folha é a folha da sorte, por este motivo o trevo-de-quatro-folhas é aquele que traz a sorte.
Agora, vamos esclarecer sobre a genuinidade dos trevos. Como disse, o verdadeiro trevo-de-quatro-folhas é uma anomalia genética específica do trevo-branco (Trifolium repens); aquele mais comum, todo verde e que tem a folha em forma de coração (como os da imagem acima).
Há outros trevos de outros gêneros; exemplo deles são os 'Oxalis' o os 'Marcilea'. Estes têm quatro folhas e são muito comercializados, mas não são podem ser considerados os legítimos trevos da sorte.
O bulbo de trevos encontrado pelo meu amigo, embora eu não os tenha visto, é provavelmente o 'Marcilea', que são os mais comuns aqui no Brasil e muita gente cultiva.
Diz a lenda que se você encontrar, por acaso, um trevo-de-quatro-folhas, uma boa sorte está por vir. Este é um ditado antigo muito divulgado na Irlanda: "se quatro folhas o trevo tiver, terás boa sorte no que vier".
O trevo também é um dos símbolos da Irlanda, cujo significado acredita-se estar ligado ao santo padroeiro do país ( leia no post "São Patrício") que lançou mão dele para explicar a santíssima trindade. Na terra dos Leprechauns, senhores da boa sorte, achar um trevo com cinco folhas - ou mais - significa ainda mais prosperidade. 
Encontrado em 31/07/2016
Os irlandeses acreditam que suas colinas tenham mais trevos-de-quatro-folhas do que qualquer outro lugar do mundo. Este é um dos motivos pelos quais eles se consideram pessoas de sorte. A expressão "Lucky O´Irish" (Sorte Irlandesa) é bastante difundida no dia de São Patrício, e é muito comum desejar a "Sorte Irlandesa" uns aos outros .
Bem, se for verdade que na Irlanda estão a maior parte dos trevos-de-quatro-folhas existentes, deparar-se com um fora da Ilha Esmeralda pode ser ainda mais raro.
Se deparar com um verdadeiro trevo-de-quatro-folhas ainda é uma ocorrência incomum. Encontrei dois: um em Julho de 2013 e outro em exatos três anos depois com apenas um dia de diferença. Posso me considerar uma pessoa de sorte, pois encontrar algo tão raro é, sem dúvidas, muita sorte mesmo.

 O Primeiro -30 de Julho de 2013







segunda-feira, 18 de março de 2013

São Patrício - Os Mitos por Trás do Santo

Ontem, 17 de Março, comemorou-se o dia de São Patrício; o santo padroeiro da Irlanda (terra tão venerada pelos místicos).
Há diversas lendas que envolvem a vida do santo que, embora seja padroeiro do país, não era irlandês. 
São Patrício era galês, mas se tornou o santo patrono da Irlanda porque foi ele o grande responsável pela evangelização na ilha e a conversão dos pagãos ao cristianismo no século IV.
Uma das lendas é que Patrício, depois de ter sido nomeado bispo, expulsou as cobras da Irlanda e, por este motivo, até hoje não existem cobras na Ilha Esmeralda. Na realidade, acredita-se que nunca existiu cobra na Irlanda,e que esta foi uma história simbólica e metafórica, onde as cobras representam os druidas que habitavam o país. Dizem que após a volta de São Patrício à Irlanda, onde havia sido escravo dos pagãos anos antes, a religião dos druidas perdeu a força e eles se sentiram obrigados a irem embora. Realmente, os druidas acabaram desaparecendo mas é provável que isto tenha acontecido gradativamente.
Outra lenda é a respeito do trevo que é um dos símbolos do padroeiro. Conta-se que São Patrício utilizou-se do famoso trevo, tão comum na ilha, para explicar o mistério da santíssima trindade cristã. Ele usava do trevo como exemplo, dizendo que assim como este era "um" com suas três folhas, Deus era um nas três pessoas da trindade. Alguns pagãos afirmam que este não é um conceito cristão e que o trevo já era um símbolo da deusa tríplice antes do santo catequizar na ilha.

Algo interessante é que, mesmo São Patrício tendo lutado contra os hábitos e costumes pagãos como muitos afirmam, até hoje a Irlanda é conhecida por seu grande sincretismo e lendas que remetem aos velhos tempos. No dia 17 de Março, pessoas vestidas de "Leprechauns" saem às ruas para festejar; também ilustrações destes seres fantásticos são impressas em cartões e cartazes com dizeres desejando um "Feliz Dia de São Patrício".
De modo muito curioso, as imagens deste elementais pagãos são muito mais difundidas nesta data do que as do próprio santo. 




sábado, 16 de março de 2013

Selkies - A Lenda da Mulheres-focas


Selkies são seres mitológicos presentes principalmente no folclore irlandês, escocês e finlandês. Embora comparadas às sereias, ao contrário destas que são metade peixe e metade mulher, as selkies são criaturas que vivem como focas e podem adquirir a forma humana. São criaturas mágicas capazes de se transformar tirando a pele de foca, adquirindo assim o aspecto físico de um humano.
Diz a lenda que elas, embora prefiram a vida no mar, se transformam em belas e sedutoras donzelas para dançar à beira da praia. Tornam-se mulheres cheias de encantos, tão lindas que um rapaz se apaixonaria logo à primeira vista.
Caso isto ocorra, só há uma maneira de fazer com que uma selkie permaneça entre os humanos e assim domina-la: deve-se encontrar a pele de foca da qual ela despiu-se e esconder a pele, ou guarda-la, num lugar que ela desconheça ou não tenha acesso - assim não poderá voltar para o mar.
De acordo com o mito, ao desposa-la e ter domínio sobre a selkie, ela poderá viver bem entre os humanos, tornando-se excelente esposa e prendada mãe. Porém, caso a selkie encontre sua pele, ela não hesitará em vesti-la e lançar-se no mar abandonando o marido e os filhos.
Em algumas histórias, conta-se que a selkie volta de tempos em tempos para brincar com os filhos humanos na orla da praia, sempre tomando o devido cuidado para não ser capturada novamente.
A palavra Selkie provém de "seal" (selo), isto vem da lenda que a selkie, para se tornar humana, tem que tirar a pele de foca que está selada.
Há lendas também sobre 'os selkies' que são metade foca e metade homem. Lendas estas que se aproximam dos contos brasileiros do boto-rosa ou homem-boto.
Abaixo segue o video com uma tradicional canção folclórica irlandesa também chamada de "Canção da Selkie". As cenas são do filme "The Secret of Roan Inish", que foi produzido baseado numa antiga lenda de uma mulher-foca.













quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Beth-Luis-Nion - O Calendário Celta das Árvores


Há alguns dias me deparei com um suposto "horóscopo celta" que muito me intrigou pois, neste horóscopo, haviam diversas árvores que jamais tiveram ligação com os povos celtas. Digo jamais, porque boa parte não é nativa da Europa onde viveram os celtas. Exemplo delas são: "quaresmeira", "seringueira", "goiabeira", "paineira", "manacá", "jacarandá", "ipê" e "goiabeira".
De onde surgiu este "horóscopo" ainda é um mistério, porém, acreditem, não é proveniente da cultura celta e nem fora criado por eles. Nem poderia, pois é bem provável que estas árvores em questão não se desenvolveriam facilmente em solo europeu.
Se houvesse um "horóscopo celta", talvez estaria ligado ao que Robert Graves chama de "Treze Meses das Árvores". São 13 períodos, os quais cada um deles é regido por uma árvore do "Ogham"
Ogham é um alfabeto celta associado à algumas árvores cujo os símbolos, acredita-se, eram também utilizados como oráculos. Segundo Graves, havia também um calendário relacionado a este alfabeto que foi denominado "Beth-Luis-Nion". Cada período em questão conta com uma árvore correspondente.
Seriam elas: 

24/12 a 20/01 - Bétula - Beth
21/01 a 17/02 - Sorveira - Luis
18/02 a 17/03 - Freixo - Nion
18/03 a 14/04 - Amieiro - Fearn
15/04 a 12/05 - Salgueiro - Saille
13/05 a 09/06 - Pilriteiro - Uath
10/06 a 07/07 - Carvalho - Duir
08/07 a 04/08 - Azevinho - Tinne
05/08 a 01/09 - Aveleira - Coll
02/09 a 29/09 - Videira - Muin
30/09 a 27/10 - Hera - Gort
28/10 a 24/11 - Junco - Ngetal
25/11 a 22/12 - Sabugueiro - Ruis

***23/12 - Não há correspondente porque ocorre fora do ano de treze meses, portanto não seria regido por nenhuma árvore.

Estas são, de acordo com "A Deusa Branca", as árvores que correspondem ao antigo alfabeto e calendário celta. Notemos que todas elas são árvores (entenda-se por árvores qualquer tipo de planta -  pois antigos celtas não faziam a distinção botânica que existe hoje), que se desenvolvem em solo europeu.
Se existisse um "horóscopo celta das árvores" - digo novamente: "se existisse" (pois não há)- é bem provável que este estaria  ligado, no mínimo, às árvores europeias.


segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Brocéliande - A Floresta de Merlin

Muito me admirei quando, na busca por quaisquer informações em português, encontrei muito pouco a respeito de Brocéliande, também conhecida como a "Floresta de Merlin".
Há poucos dias numa visita a um sebo da cidade, deparei-me com um fantástico livro de Jean Markale chamado "Merlin, O Mago". Logo no prefácio, o autor declara: "Ao se passar a noite na Floresta de Brocéliande, ouvem-se, às vezes, estranhos ruídos nas árvores. Os céticos dirão que é o vento que sopra nos galhos; outros dirão que talvez seja a voz de Merlim a nos indicar o grande caminho da aventura humana".
Merlin é cidado diversas vezes como "o selvagem" ou "o louco dos bosques", isto segundo narrativas como "Vita Melini", de Geoffrey de Monmouth. Ou seja, ele é o mago solitário que habita os bosques à procura da sabedoria e do entendimento. Diversos relatos destes bosques se encontram na literatura onde Merlin aparece e 'Brocéliande' é nome dado a esta floresta.
Merlin & Viviane em Brocéliande
 A localização exata de Brocéliande ainda é fruto de grande discussão mas acredita-se que o local é onde hoje está a Floresta de Paimpont, na Bretanha (não confundir com a Grã-Bretanha), França. Esta região foi habitada pelos antigos gauleses onde, inclusive, se encontra o famoso túmulo de pedras onde acredita-se estar os restos mortais do mago.
Segundo as lendas, de tempos em tempos o mago voltava ao bosque para reencontrar a espiritualidade dos antigos druidas que comungavam com a natureza e se recusavam a construir templos de veneração aos deuses. Eles acreditavam que a divindade só poderia ser acessível no âmago das florestas, no "Nemeton" (leia o post sobre os Nemetons).
De acordo com Jean Markale, a Floresta de Brocéliande cobria todo o centro da península, mas hoje restam apenas alguns bosques como o de Paimpont onde, segundo relatos, é considerado o bosque onde se desenvolveram diversas façanhas nos mitos arthurianos.
O grande Merlin já conhecia os poderes da floresta e até hoje Brocéliande é considerado um local místico onde, acredita-se, o espírito do mago perambula em meio a paisagem feérica.


Suposta tumba de Merlin